“A Civilização do Espetáculo” de Mario Vargas Llosa e o “Asinus asinun fricat”.
A indústria do entretenimento se apropriou, praticamente, de toda a cultura. Seja de que ramo for, o negócio é o espetáculo, a diversão e a formação de seguidores.
“Os tradicionais valores da cultura estão cada vez mais minoritários e quase, quase clandestinos”, disse Mario Vargas Llosa em entrevista histórica sobre o seu livro “A Civilização do Espetáculo”.
Dessa tragédia cultural, surgiu o “culto à celebridade”. Essas “pessoas célebres” são de diversos tipos. Podem ser blogueiros, jornalistas, artistas, profissionais do esporte, etc, lembrando sempre das honrosas exceções que não fazem pacto com o mau gosto nem disseminam o lixo cultural.
A “Civilização do Espetáculo” e o “culto à celebridade” provocam no ser humano a diversidade das sensações, incentivando comportamentos e desenvolvendo imitações.
Sabendo disso, a celebridade deseja influenciar o admirador e, realmente, tem o condão de arrastar o fã para onde quiser. Por exemplo, até usurpar a recomendação de vacinas, coisa própria de médicos, as celebridades o fazem!
Despreparado intelectual e espiritualmente, o admirador vai seguir a celebridade. Esta quer ser seguida. Ganhará popularidade, que aumentará a vaidade e dinheiro, que aumentará a avareza.
Há reciprocidade entre o fã e a celebridade. “Asinus asinum fricat”. O asno coça o asno. A expressão latina significa que os tolos elogiam-se mutuamente. A celebridade coça o fã e o fã coça a celebridade.
Quem perde com isso é a própria civilização.
Vargas Llosa, então, explica:
“Essa é uma conclusão relacionada à cultura, à vida das pessoas, aos valores que regulam a conduta das pessoas. E num campo sobretudo isso é muito perigoso, que é o campo da vida pública, a vida cívica. O espírito crítico desaparece, se deprava, degenera. A liberdade e a democracia sofrem uma ameaça muito considerável. Isso, para mim, é consequência de confundir arte com lixo, a arte autêntica com a arte dos trapaceiros, dos palhaços.
Devem existir trapaceiros e devem existir palhaços para a diversão, mas se isso passa a substituir inteiramente a arte, então creio que há consequências que têm um efeito tremendamente negativo, sobretudo na vida cívica da sociedade.”
Como bem disse Vargas Llosa, “o espírito crítico desaparece” nessa “Civilização do Espetáculo” e o indivíduo passa a seguir quem não deve e a se submeter às ordens das celebridades.
Embora o Nobel de literatura* admita a coexistência do entretenimento com a alta cultura, esta não pode se confundir com o “lixo” que transforma a cultura em mero espetáculo vazio, algo que pode ser muito prejudicial à vida cívica na sociedade.
P.S.: *Mario Vargas Llosa recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2010.
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