As circunstâncias implacáveis e a salvação segundo Graham Greene

 As circunstâncias implacáveis e a salvação segundo Graham Greene

De: Luís Fernando Pires Braga

“Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo, não me salvo”, dizia Ortega y Gasset.
O pescador Santiago de Hemingway, no livro o “Velho e o mar”, fez da captura de um marlim um objetivo final da vida. Depois de conseguir pescá-lo, os tubarões começam a devorar sua presa, as circunstâncias são destruidoras para seu nobre intento e exclama o narrador:”o homem não nasceu para derrota, ele pode ser destruído, mas jamais derrotado”. A liberdade interior movida pela consciência inviolável da circunstancial destruição traçam um panorama favorável à uma vitória do espírito.

O outro Santiago, o de “Crônica de uma morte anunciada”, de Gabriel Garcia Marques padece de menos sorte ainda, dada a implacabilidade das circunstâncias
Ainda que uma cidade soubesse da trama de seu assassinato, de toda a injustiça contra ele, o destino trágico estava traçado e o assassinato acontece.
Graham Greene, o católico cético, conforme o escritor Joseph Pearce o definiu, conferia também, nos seus livros mais sombrios, um destino trágico a seus personagens e os deixava à margem do desespero e do pesadelo da condenação. Assim foram Scobie, no “Coração da Matéria”, o garoto Pink em “O condenado”, o padre de “O poder e a glória”, Bendrix de “Fim de caso”, entre tantos outros personagens que oscilavam entre a luz e a escuridão, mas que ao serem cercados pelas circunstâncias desesperadoras sucumbiam a elas.
No entanto, com todo o respeito ao sr. Pearce, acho que o excelente biógrafo não teve acesso a uma entrevista que Greene dera à revista Veja em 31 de março de 1982, onde há respostas do autor inglês que são uma chave para desvendar o pensamento dele sobre o ceticismo e a salvação daqueles que são cercados por circunstâncias implacáveis, a terem como única saída a via do pecado.
Ao ser indagado se acreditava em Deus o tempo todo ou de vez em quando e cada vez menos, responde;”é preciso fazer uma distinção entre fé e crença. Crença é algo racional. Acredito cada vez menos, mas minha fé me diz que estou errado.”
Quando é perguntado se é maniqueísta, pois segundo a crítica ele escreveria somente sobre o bem e o mal, diz:”maniqueísta? Bem, isso combina mais com a linha do meu colega Anthony Burgess. Apesar de ter nascido católico, Burgess não sabe teologia. Ele prefere ser chamado de jansenista a maniqueísta. Os jansenistas acreditam que o Cristo morreu só pelos eleitos, e não por todos os homens. Não acredito no inferno, e não vejo como poderia ser um jansenista. Em todos os meus livros é aos não eleitos que é dada a esperança”.
Eis a salvação segundo Graham Greene, é a misericórdia a todos os pecadores, até porque não existiria inferno.

Luís Fernando Pires Braga

Advogado.

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