Continuando a nossa reflexão sobre ética, nada mais oportuno do que lembrar os diálogos travados entre Umberto Eco e Dom Carlo Maria Martini que ilustram as duas grandes doutrinas sobre moral delimitadas nos estudos de Maritain: a ética acósmica-idealista representada pelo autor de “O nome da rosa” e a ética cósmico-realista defendida pelo cardeal Martini.
Eco, agnóstico e crente de uma ética laica, proclamava uma moral, por assim dizer, que tem no outro a medida dos nossos atos e diz poeticamente: “… Como nos ensinam as mais laicas entre as ciências humanas, é o outro, é seu olhar, que nos define e nos forma.”
Assim, temos uma máxima erigida universalmente que nos coloca como atores num drama ético puramente humano que não se abre a transcendência e nos coloca à mercê de um humanismo antropocêntrico, multifacetado, em que todas as nuances possíveis concernentes à vida podem ser relativizadas.
Martini não crê nessa ética puramente humana, sem uma fonte espiritual que a informe e que eleve o homem a algo maior do que si mesmo! Algo como a santificação, por exemplo, assim como dizia Leon Bloy: “a única tragédia para o ser humano é não ser santo”. Martini, então, conclui “… Um ato bom, realizado por que é bom, veicula uma afirmação de transcendência. “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Palavras vãs? Mas até Sartre admite, mesmo de um ponto de vista ateu: “Com Deus desaparece qualquer possibilidade de reencontrar valores em um céu inteligível; não pode existir um bem a priori, pois não há nenhuma consciência infinita e perfeita para pensá-lo, não está escrito em parte nenhuma que o bem existe, que é preciso ser honesto, que não se deve mentir.” (O existencialismo é um humanismo).”
A ética necessita da verdade para ser estabelecida, pois todos os seres humanos creem e é necessário descobrir qual crença é verdadeira, se traz somente alguns elementos de verdade, ou se se intercomunicando uma ética laica com uma ética religiosa possam construir um mundo melhor. Martini reconhece que Eco deu essa possibilidade, mas adverte e diz “uma ética natural pode se encontrar com a ética veiculada pela revelação bíblica, na medida em que já na primeira está incluído um caminho ou uma referência à transcendência e não apenas a face do outro.”
Esses diálogos profundos que se tornaram livro mereceram o título extremamente oportuno e honesto: “Em que creem os que não creem?”. Vale a leitura!
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