Lições históricas sobre pandemia e medicina em William Bynum. Do cordão sanitário do Império Austro-húngaro ao embate Pasteur-Cock
Lições históricas sobre pandemia e medicina em William Bynum. Do cordão sanitário do Império Austro-húngaro ao embate Pasteur-Cock
A “história é a mestra da vida”, nos ensinou Cícero, o mais célebre orador romano.
William Bynum, em sua “História da medicina”, nos traz lições históricas sobre pandemia e medicina que se tivessem sido observadas desde o início do aparecimento do coronavírus não teriam causado o estrago mundial já feito até agora.
Uma medida racional e óbvia como conter o vírus nos limites do país de origem ou região mostrar-se-ia razoável, pois, no caso da covid-19, o que era pra ser uma epidemia local tornou-se uma pandemia global.
O cordão sanitário do Império Austro-húngaro foi uma medida que, segundo estudos históricos, pode ter obtido êxito no combate à disseminação de uma doença pandêmica que transformou-se em endêmica e epidêmica até desaparecer:
“A doença testou os limites das atividades da saúde pública da Idade Moderna e demonstrou o inevitável vínculo que há entre o Estado e a medicina durante tais épocas de crise. Alguns estudos históricos sugeriram que o cordão sanitário criado ao longo das fronteiras sul e leste do Império Austro-húngaro podem ter exercido algum efeito para restringir a entrada da peste desde o Oriente Médio, onde ela permaneceu endêmica, e periodicamente epidêmica, por muito tempo depois de ter desaparecido da Europa Ocidental.”
Ao contrário dessa medida acima, o isolamento da China, onde apareceu o coronavírus, não foi feito e o vírus se espalhou pelo mundo.
Agora mesmo, enquanto escrevo, há uma mutação do vírus na Índia que parece ser mais letal. As autoridades do país e a comunidade internacional irão agir para conter o vírus no limite de onde ele apareceu modificado ou nada farão?
Outra lição a ser aprendida é saber que a ciência é constantemente influenciada por fatores externos a ela.
O embate entre dois gênios da medicina, cientistas brilhantes, Louis Pasteur e Robert Koch, não deixa dúvida sobre isso:
“As relações entre França e Alemanha estavam extremamente frias depois da rápida derrota dos franceses frente ao exército franco-prussiano de Bismarck na Guerra Franco-Prussiana (1870-1881). A ciência era (e ainda é) supostamente internacional e objetiva, ultrapassando as barreiras de raças, religiões, nacionalidade ou gênero. A realidade sempre foi diferente, e Koch e Pasteur, na verdade deixaram que essa antipatia entre os dois países se refletisse em suas relações pessoais e profissionais. Pasteur devolveu os prêmios que recebeu de governos alemães e recusou-se a beber cerveja alemã, e Koch estava ávido por marcar tantos pontos quanto pudesse quando confrontado com as descobertas dos franceses nas áreas de microbiologia e imunologia.”
E o que dizer, no nosso tempo, onde os fatores externos à medicina, como política e ideologia, influenciam a prescrição de medicamentos e a aplicação de vacinas.
Repitamos: “a ciência era (e ainda é) supostamente internacional e objetiva, ultrapassando os limites das raças, religiões, nacionalidade ou gênero. A realidade sempre foi diferente (…)”
O caos médico e a mortalidade excessiva nessa pandemia se deve, em grande parte, a essa narrativa ficcional sobre a pureza da ciência, pois, na verdade, ela pode ser manipulada pelos mais diversos fatores e inviabilizar o exercício correto da medicina.
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O papel do Estado moderno e a guerra biológica à luz do pensamento de C.S. Lewis
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Recent Comments
Maurício Almeida
Texto brilhante!
Oportuno para muitas reflexões:
O direito a vida é a base dos direitos…
A partir deste direito, surgem a liberdade de crença, de ir e vir…e tantos outros.
Mas precisamos ter humildade e respeitar os estudos exaustivos da ciência. Não se trata de ideologia nem de política… é a luta pela sobrevivência mesmo.
O momento é de muita Fé e despojamento de vaidades pessoais.
A vida é agora. Aproveite da melhor possível.