Maritain e a Ética

Maritain e a Ética

          Em duas portentosas obras filosóficas, “A Filosofia Moral” e “Problemas fundamentais de filosofia moral”, Jacques Maritain estuda as escolas e autores filosóficos que estruturaram o pensamento moral e delimita o problema em duas grandes vertentes: a tradição clássica e o ponto de vista ético Kantiano.

            Ética cósmico-realista tem como fontes Deus, a natureza e a lei natural. A razão, nesse caso, é mensurante e mensurada. Formula suas premissas sob a autoridade dessas estruturas. É experimental e normativa. Se a Ética cristã admite o “Não matarás” é porque a fonte é o Decálogo.

            A Ética acósmica-idealista é aquela em que a razão é a medida de tudo (razão puramente mensurante). A sua fonte é o Imperativo categórico. Recebe da razão pura seu timbre:”age apenas segundo uma máxima que possas, ao mesmo tempo, ser erigida em lei universal”. Ou seja, não se atua retamente por fazer o bem. O que se faz é bem (é moral) porque se atua conforme uma máxima que pode ser universalizada que caiu do “Olimpo” da razão pura a priori, medida de si mesmo.

            Sendo assim, a razão puramente mensurante e que admite um Imperativo categórico como fundamento acredita que o bem está vinculado a uma máxima que pode ser universalizada. Isto é, a “a bondade moral do objeto”, em sendo universal, está justificada.

           Por exemplo, o direito de escolha e ao corpo, reivindicado pelas mulheres, no caso do aborto, é fundamentado por esta ética.

            Não existe uma bondade intrínseca do objeto (a vida de um feto e a preservação deste), mas a bondade moral do objeto, no caso da ética Kantiana, reside na compatibilidade lógica com a lei universal, ou seja, a propriedade do corpo e a livre escolha em poder abortar, desde que universalizada a máxima.           Evidentemente que a ética acósmica-idealista é a ética do relativismo.

            Fez muito bem, o então Cardeal Ratzinger, chamar atenção para a “Ditadura do Relativismo”, nos nossos dias, quando da Homilia da Missa “Pro Eligendo Romano Pontifice“, em 2005.            

             Esse tipo de lógica que cria um sistema ético, como esse de Kant, é destrutivo por si mesmo e anti-humanista. É a confirmação daquilo que Chesterton dizia, ao comparar poetas a certos tipos de filósofos: sobre a não aceitação da tradição calcada na realidade e no bom senso: ” (…) aceitar tudo é um exercício, entender tudo é uma tensão. O poeta apenas deseja a exaltação e a expansão, um mundo em que ele possa se expandir. O poeta apenas pede para pôr a cabeça nos céus. O lógico é que procura pôr os céus dentro de sua cabeça. E é a cabeça que se estilhaça”.

Luís Fernando Pires Braga

Advogado.

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