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Max Weber no Brasil no período eleitoral

Max Weber no Brasil no período eleitoral

Em época de eleição, o país se transforma em uma arena, na qual os candidatos se digladiam em busca do voto do cidadão. A cada dois anos isso se repete no Brasil.

Este ano, não obstante a grande e assustadora pandemia do COVID-19, haverá o pleito das eleições municipais (para o Estado brasileiro, isso é mais importante do que tudo), mesmo que ainda não haja vacina (alçada à categoria de panaceia pelos especialistas midiáticos) para esse mal, tida por muitos como a única forma da vida voltar ao normal.

Esses especialistas não contavam com algo que tem mais eficácia para debelar qualquer pandemia do que uma mera vacina, a existência de eleição no Brasil. E, com isso, volta à cena candidatos de vários matizes ideológicos, o que é bom para a democracia, pois, em tese, há a possibilidade de debates mais abrangentes.

Vendo alguns debates pela televisão, foi confirmada uma percepção que eu tenho há vários anos. A grande maioria dos candidatos não tem o mínimo de preparo para ser o mandatário da população, quer no executivo, quer no legislativo. E isso me fez lembrar o filósofo alemão Max Weber, em sua obra “Ciência e política, duas vocações”, quando informa o que ele entende por política:

[…] entenderemos por política o conjunto de esforços feitos visando a participar de poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado. (WEBER, 2011, p.60).

Isto é, Weber constatou que, para os integrantes dos partidos políticos, o que importa é a participação no poder, apenas isso.

No idos de 1917, Max Weber, observando e analisando a estrutura dos partidos políticos na Alemanha, nos Estados Unidos e na Inglaterra, detectou um traço em comum, a inexistência de verdadeiros líderes políticos, sendo os partidos geridos por funcionários burocráticos, com a manifestação de

uma democracia sem chefes, não apenas porque facilita, em benefício dos homens de prol, as manobras ilícitas  na confecção das listas de votação, como também porque dá aos grupos de interesses a possibilidade de forçar as organizações políticas a incluírem nas citadas listas alguns dos seus empregados, de modo que, no fim, nos vemos diante de um parlamento apolítico, em que não mais encontram lugar os verdadeiros chefes (WEBER, 2011, p. 105-106).

Disso, resulta a constituição de parlamentos apolíticos, ou seja, que não fazem a “boa política”, termo este que deve ser entendido no sentido atribuído por Aristóteles (na obra “A Política) à palavra Política, a Arte do bem governar, com a preocupação com o bem estar dos cidadãos e com a boa gestão da polis.

Tem um trecho de Weber, na aludida obra, que parece sintetizar bem a política (com “p” minúsculo mesmo) deste enorme país situado na América do Sul, chamado Brasil. Para o filófoso alemão, existem as pessoas que vivem “da” política, que são aquelas que trasnformaram a política como profissão, como meio de ganhar a vida. Diante disso, restaram poucas alternativas,

[…] ou se voltará para o jornalismo e para os encargos burocráticos nos partidos ou tentará conseguir um posto numa associação que se encarregue da defesa de determinados interesses, como é o caso dos sindicatos, das câmaras de comércio, das associações rurais, das agências de colocação, etc., ou, ainda, buscará posição conveniente junto a uma prefeitura (WEBER, 2011, p. 106).

Em um exercício livre de pensamento, fico a imaginar Max Weber chegando ao Brasil em 2020, em meio ao movimento político das eleições municipais, percorrendo do arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, ao monte Caburaí, em Roraima, passando pelas capitais e por cidades pequenas do interior.

Arrisco afirmar, e com pouca margem de erro, de que ele constataria que a análise de filosofia política que ele fez no ano de 1917, para a Alemanha, EUA e Inglaterra, poderia ser aplicada ao Brasil do Século XXI, com pouquíssimas adaptações. Constataria que a grande maioria dos candidatos, em especial os tradicionais, vivem da política e não para a Política.

Enquanto não for feita uma reforma política que permita que cidadãos realmente qualificados moral e tecnicamente, imbuídos do espírito público, possam efetivamente concorrer, sem amarras aos partidos políticos e aos caciques políticos, que comandam os partidos, o Brasil não sairá desse ciclo vicioso eleitoral, sem possibilidade de um futuro realmente melhor para toda a sociedade.

Para ler sobre “A entrevista de Valérie Bugault sobre a Geopolítica do coronavírus. Pandemia, política e controle da sociedade.”, clique aqui.

Para ler sobre “Direito, política e ilusão: pandemia COVID-19, clique aqui.

# Max Weber no Brasil no período eleitoral

Publicado no site Guedes & Braga.

Referência:

WEBER, Max. Ciência e política. Duas vocações. São Paulo: Editora Martin Claret, 2011.

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Luiz Guedes da Luz Neto

Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (2001). Mestre em Direito Econômico pela UFPB (2016). Aprovado no concurso de professor substituto do DCJ Santa Rita da UFPB (2018). Aprovado no Doutorado na Universidade do Minho/Portugal, na área de especialização: Ciências Jurídicas Públicas. Advogado. Como advogado, tem experiência nas seguintes áreas : direito empresarial, registro de marcas, direito administrativo, direito constitucional, direito econômico, direito civil e direito do trabalho. Com experiência e atuação junto aos tribunais superiores. Professor substituto das disciplinas Direito Administrativo I e II e Direito Agrário até outubro de 2018. Recebeu prêmio de Iniciação à Docência 2018 pela orientação no trabalho de seus monitores, promovido pela Pró-Reitoria de Graduação/UFPB. Doutorando em direito na UFPB.

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