O criminoso como oprimido social na visão marxista e de como essa concepção é contrariada pela grande literatura e pela trágica e edificante história de Jacques Fesch.

O criminoso como oprimido social na visão marxista e de como essa concepção é contrariada pela grande literatura e pela trágica e edificante história de Jacques Fesch

Quando se considera bandido como oprimido social, criminaliza-se o sistema e se inocenta o culpado. Se o sujeito comete um crime no sistema capitalista (seria este, na visão marxista, o sistema opressor), a opressão o fez cometer o delito. Então, tem-se que é necessário subverter o sistema e tirar a responsabilidade do criminoso, este é vítima também. Daí viria a reeducação, não a penalização.
 O “coitado” (bandido), vítima da sociedade opressora capitalista deve ser reensinado a conviver na sociedade e modificar esse meio opressor criado pelo Capitalismo e, por conseguinte, eliminar a criminalidade.  Prova cabal desse entendimento encontra-se no livro de diálogos entre o educador Paulo Freire e Frei Betto: “Essa escola chamada vida”. Nessa obra, uma das questões primordiais é a abolição das penitenciárias, a crítica ao sistema e a reeducação.
Na página 41, diz o frade :”o sistema penitenciário, tal como ele existe na sociedade capitalista, principalmente aqui no Brasil, é extremamente cruel, não só porque confina fisicamente o homem, sem que esse homem possa compreender o problema da liberdade…”

Continua, afirmando: ” No fim do texto digo que concordo com Michel Foulcault que o problema carcerário no Ocidente não vai se resolver enquanto existirem penitenciárias.”

Por fim, prega a reeducação: “…minha meta era criar, através do teatro, um processo pedagógico pelo qual eles pudessem se libertar subjetivamente de todo aquele sofrimento absurdo que o sistema penitenciário gera no preso comum.”  Dostoiévski sabia o quanto esse tipo de ideia estava errada. Em “Crime e Castigo” narra o assassinato de duas senhoras pelo jovem Raskolnikov. O homicida é descoberto, punido e aceita a sua pena! Sabia Raskolnikov que para se regenerar necessitaria muito mais do que falsa piedade e arte engajada. Precisa aceitar o castigo e da realidade eterna. “Sob o travesseiro havia um Evangelho.” (era de Soniia)
“Ainda agora não o abriria, porém um pensamento atravessou-lhe rápido o espírito: Sua fé pode não ser a minha, agora, mas pelos seus sentimentos, suas tendências, não nos serão comuns?…”
“Começa aqui, entretanto, outra história, a da lenta renovação de um homem, de sua regeneração progressiva…”

Assim é a magnífica ficção de Dostoievski e assim foi a terrível, misteriosa e edificante história de Jacques Fesch, o assassino que aceitou seu castigo, qual um Raskolnikov e que pode, um dia, ser proclamado santo.  Jacques Fesch assassinou em 25 de fevereiro de 1954 um policial com 3 tiros após assaltar uma casa de câmbio onde agredira um funcionário desse estabelecimento..
Era ateu, rico, jovem e de boa família.
 No depoimento, ao ser perguntado por que atirara três vezes, dissera:”arrependo-me de não ter usado uma metralhadora”. Fesch foi condenado à morte na guilhotina. Converteu-se misteriosamente. Uma vez renascido das trevas, passou a escrever sobre sua experiência mística e a viver como um monge na prisão. Confessou o crime, arrependeu-se verdadeiramente e pediu para não ser executado.  Não foi atendido, aceitou a pena e escreveu em seu diário:”Que cada gota do meu sangue apague um pecado mortal”.  #Fesch#Dostoievski#JacquesFesch#literatura#crime#Raskolnikov#guedesebraga 

Luís Fernando Pires Braga

Advogado.

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