Racionalidade, obscurantismo e ciência. Algumas reflexões.
“A racionalidade vencerá o obscurantismo”, disse, em recente pronunciamento, o Presidente do STF.
Não sei se ele estudou suficientemente história, filosofia e ciência para declarar algo assim, mas podemos afirmar que sistemas racionais como o comunismo e o nazismo foram os mais obscuros e destrutivos da história e a Revolução Francesa, ao entronizar a “Deusa razão”, produziu um terror revolucionário e assassino.
Por isso mesmo, esclarecemos que o racionalismo sadio busca a verdade, não a idolatria da razão.
Bom, pode ter sido uma generalização ou um arroubo retórico por parte do eminente ministro, mas sempre é bom refletir sobre esse tipo de expressão.
Se a racionalidade que ele prega tiver como base, por exemplo, o pensamento de Aristóteles teremos, com certeza, a vitória contra o obscurantismo, mas se for o pensamento de Marx, o obscurantismo é que vencerá.
O racionalismo saudável é aquele que se abre para o mistério da fé, do amor e da verdade, assim como uma religião saudável é aquela que faz o uso da razão para deter o fanatismo e o fundamentalismo.
“A FÉ E A RAZÃO (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”, escreveu São João Paulo II em sua encíclica Fides et Ratio.
Essa elevação para contemplar a verdade é contrária ao relativismo e niilismo, consequências da idolatria do racionalismo.
Em filosofias relativistas e niilistas, o desespero da morte cresce e se a angústia do nada é a regra, ou se sucumbe a ela ou se busca na ciência a salvação para todos os males.
A absolutização da ciência, assim, ganha terreno entre os desesperados e os ideólogos, o que é um grave erro.
Ainda que fundamental, a ciência não é algo absoluto, nem determinista. Por exemplo, aprendemos com Heisenberg, um grande cientista, o princípio da indeterminação:
“Na formulação precisa da lei da causalidade…não podemos conhecer o presente em todos os elementos determinantes. Por isso, cada percepção é uma escolha entre uma abundância de possibilidades.”
Ou seja, não se pode excluir o observador daquilo que ele estuda e observa. Podemos falar de eventos a partir da mensuração da matéria pelo cientista, não de fatos. Mesmo tentando refutar a causalidade, Heisenberg cederia depois parcialmente ao princípio da causalidade(caso contrário, teria que admitir que o efeito do que ele observava viria do nada, o que é absurdo).
De uma certa forma, o princípio da indeterminação ou incerteza guarda relação com aquela sutil distinção que Santo Tomás de Aquino propôs na Summa contra Gentiles entre causalidade natural e causalidade Divina(somente Deus pode saber sempre a escolha certa entre a abundância de possibilidades).
E, como se nota acima, um cientista genial e um grande santo filósofo se elevaram para buscar a verdade, usando a razão para tentar explicar nossa realidade profunda, ao contrário daqueles que abusam de palavras importantes transformando-as em “frases feitas” ou “armas” ideológicas.
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Excelente artigo reflexão.
Na minha ótica, a frase do Ministro Fux não ficou clara.
O que quis dizer com obscurantismo? O que seria a racionalidade, nessa grave crise?
Sabemos bem, como muito bem disse o Roberto Motta, em recente texto curto e abrangente, quem são os verdadeiros
NEGACIONISTAS.
Se o Ministro vai esclarecer, não sei. Mas deveria, para se posicionar e não deixar dúvida.