“Um país se faz com homens e livros”, dizia Monteiro Lobato. Tal afirmativa queria chamar atenção para a necessidade de conhecimento do ser humano através dos livros, condição primordial para o desenvolvimento de um país.
No entanto, existe uma sintomática hodierna que inverte completamente essa máxima do criador das “Caçadas de Pedrinho”.
É um estado de espírito que pode ser expresso assim:”um país se faz com homens e viagens”. Viajar sempre foi preciso, pois a possibilidade de descobrir algo novo, vantajoso ou interessante fazia-se premente:”Navegar é preciso, viver não é preciso”, alertava Pompeu, general Romano.
O viajante mudou com o passar do tempo. As pessoas se deslocam, hoje, por obsessão, empáfia ou, simplesmente para dizer:”eu fui, eu posso ir, você não, comi, bebi, conheci e blá blá blá…”
Um poeta dizia que viajar é “apenas mudar o local da solidão” e, como bem arrematou Aristóteles, “o homem solitário é uma besta ou um gênio”. Ou seja, o sujeito hoje apenas vai de um lugar a outro transferir a própria bestialidade.
A viagem, para o homem comum de antigamente, era a coroação de estudos ou dos sonhos de uma vida.
Quando uma pessoa dizia que havia retornado da Europa e mencionava isso, parecia que estávamos diante de um extraterrestre. Era um susto, uma festa. Ah, e se trouxesse um mero biscuit, este objeto era venerado como uma relíquia de santo. ..
Pois bem, com as agências de viagem e os cartões de crédito, viajar passou a ser tão comum quanto mascar chiclete.
Outro dia, um sujeito, após atirar a goma para fora da boca, disse: “acabei de voltar de Paris…”. Falava como se tivesse retornado de um buraco. E fazia pose de conquistador! Era o próprio Napoleão!
Dizia que tinha comido nos melhores restaurantes, atravessara o Arco do Triunfo, navegara no Sena, etc.
Perguntei, então, ao nosso Napoleão: E a Guerra dos 100 anos? E o período do Terror da Revolução Francesa? E a geração perdida dos anos 20? Gide? Maritain? Pascal? Bernanos? Camus…
Ele começou a tremer o lábio e bradou, :”comi escargot, rapaz, escargot..entendeu?!”
A conversa passou a ter ares de caramujo estragado…
O “conquistador de Paris” viajara qual cachorrinho de madame. Passeara, comera que nem o feliz animalzinho, com a vantagem para o cãozinho, pois este não fala besteira.
O viajante, às vezes, a exemplo do “Napoleão de hospício”, como dizia Nelson Rodrigues, nada mais é do que um imbecil que se desloca de um lugar a outro e, quando retorna, piora.
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