A importância da ficção em Chesterton. Porque precisamos nos “alimentar” tanto dos fatos quanto da ficção.
A importância da ficção em Chesterton. Porque precisamos nos “alimentar” tanto dos fatos quanto da ficção.
“Um homem são é aquele que tem a tragédia em seu coração e a comédia em sua cabeça”, dizia Chesterton.
Temos certeza de coisas trágicas na vida, mas podemos enfrentá-las com a mente preparada para a desgraça.
Por isso mesmo, e mais do que nunca durante essa pandemia, é necessário, para a saúde mental do indivíduo, “alimentar-se” intelectualmente tanto dos fatos quanto da ficção.
Ser “massacrado” psicologicamente por uma avalanche de notícias, em sua grande maioria negativas, ou de acontecimentos ruins, pode causar danos mentais que vão desde um medo incessante a uma severa depressão.
Chesterton, então, nos aconselha:
“No entanto os seres humanos não podem ser humanos sem algum terreno de fantasia ou de imaginação; alguma vaga ideia do romance da vida, e mesmo algum descanso da mente em um romance que seja um refúgio da vida.
Toda pessoa saudável, durante um certo período, deve se alimentar tanto da ficção quanto do fato; porque o fato é uma coisa que o mundo lhe dá, enquanto que a ficção é uma coisa que ela dá ao mundo. Isto nada tem a ver com o homem ser capacitado para escrever; ou mesmo com ele ser capaz de ler. Talvez, o melhor período seja o da infância, e que é chamado o da brincadeira ou do fingimento. Mas, que é, não obstante, verdadeiro quando a criança começa a ler ou às vezes (coitada!) a escrever. Qualquer pessoa que se recorde de um conto de fadas de sua predileção terá um sentido forte de sua solidez original, de sua riqueza e mesmo dos detalhes definidos; e ficará surpresa, se o reler na vida futura, de perceber quão singelas e triviais eram as palavras que sua própria imaginação tornou não apenas vívidas mas variadas. E mesmo o mensageiro que lê centenas de historietas sensacionalistas, ou a senhora que lê romances da biblioteca-volante, estarão vivendo uma vida imaginativa que não viria em plenitude apenas do exterior.” *
Alimentar-se de bons livros, de maneira geral, é um verdadeiro antídoto contra a doença mental. Era o que Viktor Frankl chamava de biblioterapia, mas a vida imaginativa através de uma boa e inocente ficção, literária ou não, também pode causar os mesmos efeitos.
Pois bem, os fatos nos vêm do cotidiano e são incessantes. Pode haver uma sobrecarga mental por esse motivo. Além disso, nossa vida é cercada de perigos e algo pode dar errado.
Dessa maneira, como sugere Chesterton, alimentar-se de ficção(lembrar-se, por exemplo, de uma brincadeira de infância ou de um conto de fadas) pode produzir vida imaginativa saudável que nos coloca naquele estado de fuga responsável em que podemos sonhar acordados sem perder de vista a realidade que nos circunda.
E me vem à mente o diálogo da menina Isabelle com a mãe no conto de fadas “Jack, o caçador de gigantes”.
“Quero que tenha aventuras”, diz a mãe de Isabelle ao saber que ela havia ido visitar escondida as catacumbas reais.
Isabelle, então, se surpreende em não ter sido castigada e pergunta: “para que servem as aventuras?”
A mãe diz: “Para saber como o mundo funciona”.
E é exatamente disso que precisamos neste momento de covardia geral da humanidade: de aventuras para saber como o mundo realmente funciona com essa “Nova Ordem Mundial” e tentar modificá-lo! Se não conseguirmos, será trágico, mas estaremos felizes e sãos por tentar! “A tragédia no coração e a comédia na cabeça”
P.S.:* Trecho extraído de “Ficção, alimento” de Gilbert Keith Chesterton.
Leia também:
As circunstâncias implacáveis e a salvação segundo Graham Greene
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Recent Comments
ODILON ROCHA
Excelente texto de alerta.
Realmente, boas leituras ajudam bastante.
Por vezes, sem perder o foco, querer entender o mundo e suas bizarrices políticas dá cansaço e uma tremenda perda de tempo.