A santidade de Charles de Foucauld por T.S. Eliot.
A santidade de Charles de Foucauld por T.S. Eliot.
Em 1941, durante a 2a Guerra mundial, T.S. Eliot disse, através de comunicação radiofônica, que seria necessária uma conversão da consciência social para transformar a Grã-Bretanha num Reino Cristão.
A inspiração a ser seguida, para que isso acontecesse, dizia ele, seria a dos profetas.
“Ela aparecerá na vida dos profetas – homens que não apenas mantiveram a fé através dos tempos sombrios, mas que sobreviveram à mentalidade dos tempos sombrios e a superaram”.
Eliot falaria também da santidade como o caminho a modificar “hábitos de sentir e pensar, de desejar e querer, de que todos somos mais escravos do que percebemos”. Cita, como exemplo, Charles de Foucauld.
Façamos a seguinte digressão: Um santo, como escreveu Chesterton, é um remédio para o mundo. “Ele costuma devolver a santidade ao mundo quando enxerga aquilo que o mundo negligencia, que de modo algum é sempre o mesmo elemento em todas as épocas.” Pois bem, não só a Grã-Bretanha merece esse remédio da santidade, mas o mundo.
Continuou, T.S. Eliot:
“Terminarei dizendo algo sobre uma testemunha cristã de nosso tempo, de quem vocês podem jamais ter ouvido falar. O nome dele é Charles de Foucauld, um padre francês que morreu na África Setentrional em 1916, não é um nome muito conhecido na Grã-Bretanha, embora sua biografia, escrita por René Bazin, tenha sido traduzida. Gostaria que todos lessem esse livro, porque não posso, em um breve relato dessa vida extraordinária, lhes dar qualquer ideia de sua qualidade espiritual. Foucauld foi um homem nascido para a riqueza e a boa posição social; ele abandobou uma vida de prazer e devassidão, primeiro para viajar sob o disfarce de um humilde comerciante judeu, com caravanas em territórios inexplorados e ainda não subjugados no Marrocos francês e na Argélia. Com sua vida em constante perigo, ele foi capaz de tomar notas e fazer pesquisas que se provaram de grande valor para administração. Ele descobriu, então, a vocação para a vida religiosa, viveu por um um longo período entre as comunidades mais austeras, fez peregrinação como mendicante até a Terra Santa e, finalmente, ordenado padre, tornou-se missionário em um solitário posto avançado africano. Ele se qualificou para oferecer ajuda médica à tribo. Porém, o ponto é que ele era algo mais do que um bom missionário, notável como é a profissão. Seu objetivo não era converter pela educação, mas viver uma vida cristã sozinho entre os nativos. O povo de países islâmicos reconhece e venera a santidade, não importando a religião do santo; e o nome do padre Foucauld era reverenciado em todo lugar, não apenas entre seus convertidos, mas entre fanáticos muçulmanos. Quase por acidente, ele foi morto enquanto fazia suas orações em 1916 por um bando de saqueadores que desconheciam seu nome e reputação.
Essa não é, como julga o mundo, uma vida de notável sucesso. No entanto, se vocês lerem sua biografia, concordarão, creio eu, que através do misterioso poder da santidade, que é o poder de Deus, ele realizou algo pelo mundo que deveria fazer com que nos sentíssemos muito modestos em nossos esquemas e planos. Penso que é por intermédio de homens como Foucauld que surge uma consciência cristã renascida; e creio que, do ponto de vista que devemos adotar, não há glória maior para um império cristão do que aquela que foi realizada aqui por uma morte no deserto”.
Como mencionado acima, até fanáticos muçulmanos respeitavam Charles de Foucauld.
Vivemos, no mundo, cercados pelos mais diversos fanatismos. Até o cuidado com a saúde virou fanatismo sanitário após essa pandemia.
A inspiradora vida de Foucauld é remédio contra os fanatismos de qualquer espécie.
T.S. Eliot foi profético. Falou sobre a santidade do desconhecido missionário francês, 80 anos antes dela ser proclamada. Charles de Foucauld será canonizado neste ano de 2021.
E se o mundo ignora os santos e os profetas, pior para o mundo.
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