Dostoiévski e a “cultura do cancelamento”.
Foi no início da invasão russa na Ucrância que inventaram o “cancelamento” de Dostoiévski.
O autor de “Crime e Castigo” seria tema de um festival de literatura e música na cidade de Gênova. Grande iniciativa, diga-se, mas o evento foi cancelado.
Com autoridade de asnos, tentaram atingir um dos maiores nomes da literatura universal.
Por causa da guerra e por ser russo tentaram cancelá-lo. Seria o mesmo que censurar Dante, vida e obra, por ser italiano, nos tempos de Mussolini e da Segunda Guerra Mundial.
Fruto de um humanismo doentio e da pobreza cultural, essa “cultura do cancelamento” não passa de uma revanche totalitária dos fracos, ignorantes, soberbos e pervertidos contra os gênios universais!
Embora possa ser considerado um eslavófilo, Dostoiévski, por exemplo, nunca colocou a pátria acima da religião. Nem o Estado ou a autoridade de um líder carismático acima da liberdade de contestá-los.
Pelo contrário, sobre o comunismo e toda a sua estrutura, denunciou-os em “Os Demônios”. Talvez seja o escritor que mais entenda desse assunto. Ele sabia que o corpo doutrinário não tinha consistência, por isso mesmo, entendeu ser o comunismo um movimento que tomaria as mais diversas formas no decorrer do tempo, levando à destruição os próprios seguidores e a sociedade.
Vigilância extrema, doutrinação constante, rebaixamento cultural, delação, censura, punições injustas e cruéis, bases do totalitarismo, descritas em “Os Demônios” fazem parte do esquema que, hoje, se estende a todo mundo, inclusive, às chamadas “democracias ocidentais”.
O maior antídoto contra isso quem nos deu foi o próprio Dostoiévski em “Memórias do Subsolo”, conforme havíamos escrito em texto anterior.*
Nos legou, além disso, em “Os Irmãos Karamázov”, o alerta sobre a massa que se deixa escravizar, pois não quer discernir o bem e o mal e prefere exclamar: “reduzi-nos à escravidão, contanto que nos alimenteis”. Poderíamos continuar a citar inúmeros trechos de suas obras-primas para justificar a imprescindibilidade dele para o mundo.
Gênios e santos devem ser os guias da nossa existência. Dostoiévski e outros gênios universais terão que sobreviver ao “cancelamento”, caso contrário, nem a humanidade sobreviverá.
P.S.:* Ray Bradbury e Dostoiévski. “Fahrenheit 451” e “Memórias do Subsolo” e o antídoto contra qualquer totalitarismo.
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