Dostoiévski, Alceu Amoroso Lima e o mistério da maldade
Dostoiévski, Alceu Amoroso Lima e o mistério da maldade
Quando me foi apresentada a obra de Alceu Amoroso Lima, pelo Monsenhor José Paulo Pires Braga, meu tio e padrinho, em 1984, os primeiros livros eram sobre religião e filosofia, a exemplo de “O Existencialismo e outros mitos de nosso tempo” e “O sobrenatural e o mundo moderno”. Depois, veio toda a coleção que dispunha meu tio e cheguei aos livros de crítica literária do dr. Alceu.
Em excelente resenha sobre crime e literatura, Tristão de Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima), faz um estudo sobre livros que narram crimes e os compara.
Os livros são “Crime e Castigo” de Dostoievski; “Os subterrâneos do Vaticano” de André Gide; “A sangue frio” de Truman Capote.
Ao conceber essa analogia, admite o grande talento de Gide e Capote, mas o livro de Dostoiévski tinha a característica da genialidade. Gide tenta explicar o crime com a teoria do “ato gratuito”, Capote compõe um relato jornalístico , visceral e se submete aos fatos, mas Dostoievski vai além.
Raskolnikof é um estudante de boa família que sofre com a penúria e pode ser qualquer um de nós. É tocado por algo misteriosamente destrutivo e pactua com essa coisa inefável.
Se em Gide, a maldade é gratuita; se em Capote, o mal é um fato; em Dostoiévski, ela não tem explicação, é um mistério.
Tanto é assim que, numa das cenas de “Crime e castigo”, Raskolnikof diz ter o auxílio do diabo. Dr. Alceu acertou em cheio sobre a genialidade do escritor russo e a maldade enquanto mistério.
O próprio Dostoiévski, em carta, assim confirma quando trata de um outro personagem no livro “Os irmãos Karamazov”.
Não sei se Tristão de Athayde teve acesso a essa carta que Dostoiévski redigira em 1880 a Aleksandr Fiodorovitch Blagonravov em que o genial russo tenta explicar de onde vem a inspiração do mal e ataca os intelectuais:
“Porque apregoo a fé em Deus e no povo, os intelectuais gostariam que eu desaparecesse da face da terra. Por causa daquele capítulo no “Karamazov”, o da alucinação, o qual o senhor, como médico, tanto elogiou, já me chamam de reacionário e fanático, por acreditar na existência do Demônio.”
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