Fake news e interceptação eletrônica de mensagens à luz do pensamento de Marshall Mcluhan
Fake news e interceptação eletrônica de mensagens à luz do pensamento de Marshall Mcluhan
Marshall Mcluhan, autor dos livros “O meio é a mensagem: um inventário de efeitos” e “Os meios de comunicação como extensões do homem”, parece ter mesmo razão.
Ele já havia sido profético ao cunhar o termo “aldeia global” muito antes da invenção da internet.
Estudara o impacto das novas tecnologias de informação e a quantidade delas sobre a mente humana e de como a revolução tecnológica e informativa seria determinante para reger a vida.
Ressaltava, no entanto, que os meios em si e não o conteúdo é que deveriam ser levados em consideração.
Foi acusado de ser determinista tecnológico, mas o que ele dizia realmente era que a tecnologia da informação pode afetar a capacidade cognitiva das pessoas, seu comportamento, sua linguagem e, por conseguinte, afetar a organização social.
E há um problema grave subjacente a toda essa questão. É o problema da verdade. Naquilo em que o ser humano passa a acreditar.
Além disso, a constante interação com a rede pode levar a uma massificação da consciência e a individualidade tende a se perder, regredindo para uma mentalidade tribal, coletiva onde a violência e a depressão tendem a se expandir.
Tomemos como paradigma o caso das fake news e da interceptação eletrônica de mensagens.
Ora, ao se interceptar ou criar mensagens pelo meio eletrônico e quando essas mensagens são transmitidas em escala global, por esse mesmo meio, se passa a acreditar nelas pela compulsão informativo/ comunicativa e pelo efeito simbólico trazido pelo meio tecnológico(meio em si), carregado de credibilidade e que está ativo na mente do indivíduo que teve sua capacidade cognitiva modificada por esse meio.
A notícia ou mensagem trazida pelo meio torna-se, então, realidade, um fato e a suposta verdade passa a ser aceita na mente receptora da mensagem.
Demonstrar o contrário disso, a partir da realidade cognoscível, da vida como ela é, dos autos de um processo físico ou eletrônico, ou de um velho livro como “Ética a Nicômaco”, poderá ser considerado loucura, ilusão ou crime.
Mesmo no que concerne a uma suposta busca ilimitada da justiça pelo meio eletrônico, não pelos meios institucionais, o risco do erro pode ocasionar graves danos.
O pensamento de Marshal Mcluhan deve ter sido inspiração para o historiador John Lukacs que definiu bem esse estado de coisas da nossa Era, ao afirmar:
“Paira sobre o mundo uma imensa e crescente nuvem sombria, feita de inverdades, especialmente nesta era democrática das massas e da comunicação eletrônica(não raro voltada para o mínimo denominador comum entre seus destinatários). E, em meio a essa discrepância, amiúde sufocante, repleta dos mais graves dentre os perigos potenciais, poucos se dão conta de que a busca indiscriminada da justiça pode levar a extremos de insanidade, a rigor, pode devastar o mundo.”