Categories: Uncategorized

Maritain, Viktor Frankl e o “esnobismo cronológico”

Maritain, Viktor Frankl e o “esnobismo cronológico”

A excelente expressão criada por C.S. Lewis encontra eco na obra de outros importantes autores.

Maritain e Viktor Frankl, por exemplo, não ficaram alheios à face mais danosa do esnobismo cronológico que é tentar solapar a verdade a partir de novas ideias surgidas no âmbito da filosofia e da tentativa de generalização.

Essas tentativas de universalização surgem por causa do sucesso de uma nova técnica, invenção, conceito ou modo de vida e provocam um sentimento de que o novo e a mudança têm a última palavra sobre todo aspecto da realidade.

Maritain, no livro “As sete lições sobre o ser” chamou atenção para essas malfadadas generalizações no que concerne à filosofia.

Alertou:

“As inovações da técnica e das ciências da natureza nos fazem assistir a um fenômeno de progresso por substituição completamente geral que parece universal; a ferrovia substituiu a diligência; a iluminação elétrica, a iluminação a petróleo e a óleo; o sistema de Einstein o de Newton, o de Copérnico tinha substituído o sistema de Ptolomeu.”

Continua e demonstra uma certa dança macabra com a verdade:

“Grande é a tentação de generalizar, de pensar que este tipo de progresso se estende, de direito, a todo domínio de atividade espiritual. Não foi assim que toda a filosofia da Idade Média foi substituída pela de Descartes? Descartes por Kant? Kant por Bergson, e por quem mais? Whitehead ou Heidegger?

Esperando a nova filosofia materialista antideterminista, o novo hilozoísmo….

Nossos ouvidos se ofendem, ficamos escandalizados se falam de um conhecimento que mobilize, hoje, as mesma noções fundamentais, os mesmos princípios que aqueles da época de Tsankara, da época de Aristóteles ou da de Santo Tomás de Aquino.

A verdade não aceita critério cronológico.”

“Whitehead ou Heidegger”? De hilozoísmo em hilozoísmo num “progresso” interminável da filosofia!!!

Realmente, como disse Maritain, a verdade não aceita critério cronológico.

Ludwig Binswanger, colega de Frankl e um expoente da psiquiatria existencialista, disse que “uma única frase de Heidegger teria legado bibliotecas inteiras ao reino da história.”

Frankl, também, observou esse fenômeno da novidade e do progresso na filosofia e na ciência.

Essa admiração desmedida por Heidegger e o esnobismo cronológico de Binswanger, narrado por Frankl, teve um desfecho, além de interessante, bastante divertido.

Foi um experimento comandado por ele em que se juntaram pseudo genialidade filosófica e loucura através das frases de um filósofo moderno e as frases de uma alienada mental.

Assim narrou Frankl esse episódio que envolveu Binswanger, Heidegger e a prática da clínica psquiátrica:

“Cada época teve o seu “moderno”! E, em segundo lugar, existe uma crise de expressão em toda parte, vista sob o prisma do espírito, ou seja, no campo da vida espiritual. Ou seria ela pouco demonstrável na vida moderna e, ainda menos, na moderna psquiatria?

Conhecido é o estilo pesado e as muitas variantes vocabulares novas de que é, por exemplo, acusado Martin Heidegger. Há algum tempo atrás permiti-me fazer uma experiência no sentido de apresentar, numa preleção, duas séries de três frases com a observação de que as primeiras três eram tiradas de uma obra de Heidegger, e as outras tinha estenografado no mesmo dia em conversa com uma esquizofrênica. Pedi ao auditório que por votação decidisse quais eram as frases do livro do conhecido filósofo e quais as que provinham da paciente mentalmente perturbada. E posso denunciar este fato: a esmagadora maioria de meus ouvintes havia lido como esquizofrênicas as palavras do grande filósofo e vice-versa. E eram as palavras de um filósofo do qual o eminente psiquiatra suíço Ludwig Binswanger certa vez dissera que com uma única frase Heidegger teria legado bibliotecas inteiras ao reino da história.”

# Viktor Frankl

Para ler sobre filosofia do direito, clique aqui.

Luís Fernando Pires Braga

Advogado.

View Comments

  • Interessante.
    Existe naturalmente o progresso material que nada mais é do que fruto do esforço para atender as necessidades e demandas, em todas as áreas, humanas ou não.
    Esse, sem dúvida, atende a temporalidade porque cada conhecimento é encadeado e baseado no anterior.
    Já o progresso espiritual, o moral, é uma conquista pessoal.
    A filosofia Aristotélica prova isso.

Recent Posts

Feliz 2023

Feliz 2023 Desejamos a todos um Feliz 2023, repleto de saúde, paz e realizações. Aproveitamos…

1 ano ago

Uma refexão para o Natal. Anjos na guerra: da Batalha de Mons à Guerra na Ucrânia.

Uma refexão para o Natal. Anjos na guerra: da Batalha de Mons à Guerra na…

1 ano ago

Por que querem tanto controlar as redes sociais?

Por que querem tanto controlar as redes sociais ? O ser humano, por ser um…

1 ano ago

Democracia na modernidade e a aristocracia política

Democracia na modernidade e a aristocracia política. Depois que Chesterton fez a análise perfeita sobre…

1 ano ago

Ocultismo e religiosidade na política

Ocultismo e religiosidade na política. Não é de hoje que o ocultismo e a religiosidade…

1 ano ago

O “Duplipensar” de políticos favoráveis ao aborto e as consequências disso

O Duplipensar de políticos favoráveis ao aborto e as consequências disso. Desvendado por George Orwell…

2 anos ago

This website uses cookies.