Memória histórica: patrimônio a ser construído e preservado

Memória histórica: patrimônio a ser construído e preservado

 Memória histórica: patrimônio a ser construído e preservado

Última semana de dezembro de 2016, e, como é característico dessa época, é chegado o momento de rememorar os fatos ocorridos ao longo do ano. Essas rememorações ocorrem por todo o país e em diversas mídias.

Um observador que desconheça a nossa realidade poderia concluir, assistindo a todas essas retrospectivas, que nós brasileiros temos o cuidado na preservação da nossa memória histórica. Ledo engano, infelizmente.

Ao contrário, a regra aqui parece ser esquecer o passado, como se os fatos ocorridos lá no pretérito não fossem importantes na construção da nossa realidade presente. Talvez por causa dessa conduta descuidada com o nosso patrimônio histórico é que a nossa sociedade não consiga evoluir de forma positiva e repita à exaustão vários erros que poderiam ser evitados se houvesse o cultivo responsável da memória histórica.

Porém, nesse mar de esquecimento do passado, algumas iniciativas são tomadas por pessoas que reconhecem a importância da memória. Aos 10 dias do presente mês fui ao lançamento, em João Pessoa/PB, de duas obras literárias que tentam preservar a nossa memória histórica local: “Memorial do Dr. Ítalo” (organizadores: Alessandra Bucholdz e Cezar Benevides) e “Edson Benevides, Um Livreiro em João Pessoa” (organizador: Cezar Benevides).

Livros esses que têm o mérito de tentar resgatar e preservar parte da memória histórica do Estado da Paraíba.

O primeiro traz vasto material documental sobre a atuação do engenheiro civil Ítalo Joffily em diversas obras de interesse público em todo o Estado da Paraíba, destacando também a preocupação daquele profissional na pesquisa de técnicas que aprimorassem o plantio com o incremento da produtividade das culturas tradicionais da região, a exemplo do plantio de batatas na zona rural do município de Esperança (BUCHOLDZ; BENEVIDES, 2016, p. 139), demonstrando, assim, a preocupação do engenheiro não apenas com as obras de engenharia civil, mas também com a adoção, pelo homem da terra, de técnicas que tornassem o seu mister mais produtivo, com resultados benéficos na sua atividade, e, por conseguinte, a melhora na condição de vida do trabalhador do campo e da sua família.

Preocupou-se, ainda, Ítalo Joffily, com a formação dos professores e com a educação dos alunos, afirmando em “Sobre o Plano do Instituto de Educação”, redigido em 1930, o seguinte: “(…) Creou-se, póde-se dizer, uma nova dignidade do alumno, que já não é, como antigamente, méro depositario das idéas e conhecimentos do mestre, porém elemento que vive e contribue activamente (…)” (BUCHOLDZ; BENEVIDES, 2016, p. 15).

O segundo livro trata de um paraibano que, após a sua aposentadoria nos Correios e Telégrafos, dedicou-se à atividade de livreiro no momento histórico (início da década de 1950) da implantação de diversos cursos superiores no Estado da Paraíba.

Na época não havia livrarias na cidade de João Pessoa que atendessem à necessidade de professores e alunos dos recém-criados cursos superiores (havia na época algumas papelarias e livrarias que vendiam livros didáticos para o ensino fundamental e médio).

Mesmo sem ter frequentado as escolas de negócios, Edson Benevides percebeu, como observador perspicaz da realidade que o cercava, a necessidade local e abriu, inicialmente na sua residência na rua da Areia, área central da capital, a sua livraria, que depois passou a funcionar na rua Duque de Caixas com o nome de Livraria Médico-Científica (BENEVIDES, 2016, p.7), contribuindo na formação dos discentes dos então noveis cursos de ensino superior.

Excelentes iniciativas no esforço de preservação da memória histórica paraibana. Espero que esse esforço empreendido pelo historiado Cezar Benevides e pela jornalista Alessandra Bucholdz tenha ressonância na sociedade paraibana e brasileira e estimule outras pesquisas de qualidade sobre personagens que desempenharam papel na nossa história (homens que desenvolveram as suas profissões e habilidades, mesmo que de forma anônima, para a construção de uma sociedade melhor), para que esses não fiquem relegados ao esquecimento, mas que possam inspirar as gerações atual e vindoura na construção de um país melhor.

Fontes citadas:

a) Memorial do Dr. Ítalo, Alessandra Bucholdz; Cezar Benevides (Org.). Ponta Grossa : Estúdio Texto; ABC Projetos, 2016.

b) Edson Benevides, Um Livreiro de João Pessoa. Cezar Benevides (Org.). Ponta Grossa : Estúdio Texto, 2016.

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Luiz Guedes da Luz Neto

Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (2001). Mestre em Direito Econômico pela UFPB (2016). Aprovado no concurso de professor substituto do DCJ Santa Rita da UFPB (2018). Aprovado no Doutorado na Universidade do Minho/Portugal, na área de especialização: Ciências Jurídicas Públicas. Advogado. Como advogado, tem experiência nas seguintes áreas : direito empresarial, registro de marcas, direito administrativo, direito constitucional, direito econômico, direito civil e direito do trabalho. Com experiência e atuação junto aos tribunais superiores. Professor substituto das disciplinas Direito Administrativo I e II e Direito Agrário até outubro de 2018. Recebeu prêmio de Iniciação à Docência 2018 pela orientação no trabalho de seus monitores, promovido pela Pró-Reitoria de Graduação/UFPB. Doutorando em direito na UFPB.

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