Meu velho avô e a imprensa

Meu velho avô e a imprensa

Meu velho avô e a imprensa

            Tenho vívida em minha memória a lembrança de assistir ao jornal da noite com meu avô quando estava em sua casa no bairro de Casa Amarela, na cidade de Recife. Na época do fato que narrarei neste texto, eu devia ter por volta de doze anos de idade. Meu avô, já passava dos setenta anos.

            Durante o jornal, por diversas vezes, ele exclamava a seguinte frase: “não quero a opinião de vocês, mas apenas que relatem os fatos. Podem deixar a opinião por minha conta”.

            Na época, eu achava graça naquilo e não dizia nada. Hoje compreendo muito bem o que ele dizia e digo, sem medo de errar, que ele tinha razão.

            É claro que ele sabia que havia, nos jornais, os cadernos de opinião. Ele, na mocidade, trabalhou como repórter fotográfico no Diário de Pernambuco (na década de 1930). Porém, o que o incomodava era que os jornais, já na época das minhas férias em sua casa, não noticiavam fatos, não mais relatavam histórias, mas misturavam, de forma escamoteada, aos fatos, as opiniões dos jornalistas, ou, quiçá, de quem pagava os salários da redação.

            Da época da história acima mencionada para os dias atuais a situação ficou ainda pior. Não se narram mais fatos. Pior, os fatos não importam, pois o que parece importar para a mídia tradicional é a defesa da visão de mundo do veículo de comunicação, seja ele impresso ou digital.

            Explico. Não se narra mais fatos, mas argumentos são apresentados aos consumidores daquela “informação”, que devem ingerir o caldo de “informações” às pressas, para que não esfrie. Se esfriar o caldo, a mistura tende a ser rejeitada.

            Alguém pode me perguntar se eu sou contra o jornalista ter opinião. É evidente que não. O que eu sou contra é camuflar a opinião como fato para vender ao destinatário final, que está ávido pela notícia, mas acaba recebendo opiniões ao invés daquela.

            Por questão de honestidade, os meios de comunicação, bem como os jornalistas, deviam declarar, expressamente, as suas posições políticas e ideológicas. Assim, os leitores e/ou ouvintes conseguiriam filtrar melhor os fatos das opiniões ou dos posicionamentos ideológicos.

            E hoje, mesmo não tendo a idade que meu avô tinha na época acima narrada, sou eu a dizer aos jornais e aos jornalistas: narrem os fatos e deixem a opinião por minha conta. Digo mais, narrem os fatos e deixem a opinião e a interpretação dos fatos a meu cargo, para consumo próprio.

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About Post Author

Luiz Guedes da Luz Neto

Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (2001). Mestre em Direito Econômico pela UFPB (2016). Aprovado no concurso de professor substituto do DCJ Santa Rita da UFPB (2018). Aprovado no Doutorado na Universidade do Minho/Portugal, na área de especialização: Ciências Jurídicas Públicas. Advogado. Como advogado, tem experiência nas seguintes áreas : direito empresarial, registro de marcas, direito administrativo, direito constitucional, direito econômico, direito civil e direito do trabalho. Com experiência e atuação junto aos tribunais superiores. Professor substituto das disciplinas Direito Administrativo I e II e Direito Agrário até outubro de 2018. Recebeu prêmio de Iniciação à Docência 2018 pela orientação no trabalho de seus monitores, promovido pela Pró-Reitoria de Graduação/UFPB. Doutorando em direito na UFPB.

Recent Comments

  • ODILON ROCHA

    Excelente!
    Concordo plenamente.
    Pior ainda! É a vez da mentira virar a verdade.
    Haja discernimento!

    • guedesebraga

      Obrigado.

      Discernimento é fundamental para ir filtrando a mentira da verdade.

  • dublaj

    I enjoy reading a post that can make people think. Also, thank you for permitting me to comment! Prisca Warren Perkoff

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