Mobilidade urbana: o incrível poder de atrapalhar a vida de todos da cidade
Não sei se acontece na sua cidade, mas na minha sim. Falo sobre quem? Sobre aquelas pessoas que detêm o poder de modificar o fluxo do trânsito e atrapalhar imediatamente a vida cotidiana de todos os moradores e transeuntes da cidade. Já percebeu que o trânsito sempre piora depois de alguma mudança? Utilizar o vocábulo sempre talvez seja um exagero. Porém, nos últimos 10 (dez) anos costuma ocorrer (de forma mais nítida) dessa forma: mudança no trânsito é significado de piora na mobilidade urbana.
Mobilidade Urbana, expressão empregada para designar uma secretaria da prefeitura do município, ou um setor, responsável em adotar soluções para melhorar o fluxo de veículos e de pessoas no perímetro urbano. O nome empregado deveria lembrar ao gestor municipal o propósito desta. Porém, parece que não passa de mero vocábulo, destituído de valor semântico. Ou, o que pode ser pior, o valor semântico da mencionada palavra deve servir apenas de propaganda da prefeitura para a população, destinatária do serviço.
Penso (diga-me se eu estiver errado) que as secretarias municipais de mobilidade urbana deveriam mudar o nome para secretaria de imobilidade urbana. Desta forma, estariam adequando o nome ao serviço efetivamente prestado à população.
Uma dúvida que tenho: será que existe a realização de estudo prévio para a adoção de mudanças no trânsito? Tudo parece indicar que não, pelos efeitos infligidos aos munícipes a cada alteração.
Como sou curioso, fui pesquisar o significado da especialidade engenharia de trânsito. Em uma rápida pesquisa na internet, verifiquei que um dos objetivos da aludida especialidade é “disseminar entre os quadros técnicos dos órgãos de Gestão do Trânsito métodos e técnicas que consideram os problemas de tráfego de forma sistêmica, priorizando soluções que contemplam simultaneamente os aspectos físicos (do sistema viário) e comportamentais (de seus usuários)” (fonte da citação, clicar aqui). De acordo com o objetivo acima mencionado, o foco é apresentar soluções que contemplem simultaneamente os aspectos físicos e comportamentais.
Na formação desses técnicos, o propósito é apresentar soluções. Será que no conceito de solução está inserida a possibilidade de piora da realidade? De acordo com o dicionário Michaelis, dentre os vários sentidos da palavra solução, encontrei as seguintes: “Aquilo que resolve ou soluciona uma dificuldade ou um problema”, “Resposta correta de uma questão de uma prova”. Pois é, a solução é aquilo que resolve ou soluciona uma dificuldade ou um problema, e não algo que piora ou acrescenta uma dificuldade ao problema existente. A prática do município onde resido parece ser no sentido (encontrado no dicionário) contrário ao do vernáculo solução.
Dito tudo isto, pergunto-me: se há um setor técnico de engenharia de trânsito inserido na secretaria de mobilidade urbana do município, que deve fazer estudos prévios (pelo menos deveria fazê-los), por qual motivo as intervenções no trânsito resultam em piora do fluxo? Não sei a resposta, apenas posso fazer exercícios lógicos, apresentando algumas hipóteses.
Independente disso, a responsabilidade pela adoção de projetos de mobilidade urbana é sempre do gestor, acertando o município ou não, pois ele é o responsável pela gestão da sua equipe e pelo uso adequado do recurso financeiro do município; recurso público, vale lembrar.
A implementação equivocada de projetos de mobilidade urbana significa, além de transtornos para os munícipes, mal emprego de recurso público. O uso do dinheiro público deve ser realizado com inteligência e respeito aos contribuintes, devendo sempre o município prestar à população o melhor serviço possível.
Na outra ponta, cabe a nós, cidadãos, cobrar do gestor público (leia-se aqui prefeito) o bom uso do dinheiro público. E com certeza, em termos de mobilidade urbana, o emprego do dinheiro público está sendo feito de forma inadequada na maioria dos grandes municípios brasileiros, pois está gerando muito mais transtorno para a população do que eventual benefício (se é que há benefício nas últimas intervenções).
P.S.: não mencionei o município no qual resido, pois nas minhas andanças pelas várias cidades do Brasil, tenho percebido ser o problema tratado no texto comum às capitais dos estados brasileiros. Assim sendo, penso que retratei o sentimento dos cidadãos de várias capitais brasileiras acerca das malfadadas modificações no trânsito. Assim sendo, basta o leitor inserir na leitura o nome do seu município.
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