O “esnobismo cronológico” de C.S. Lewis
Depois de um intenso debate filosófico com Owen Barfield iniciado em 1922 que durou muitos anos, C.S. Lewis “curou-se” intelectualmente de dois mitos populares que a humanidade sempre cultivou: progresso e modernidade como fins em si mesmos. Chamou esse acontecimento de “cura do esnobismo cronológico”.
Mito, diga-se bem, no sentido que Alceu Amoroso Lima deu no livro “O Existencialismo e outros mitos de nosso tempo”, ou seja, o de se atribuir a algo relativo um valor absoluto.
Acreditava-se, no tempo de Lewis e do Dr. Alceu, como ainda hoje em grande parte se acredita, que a mudança e o novo têm por si só valor.
Distinção a ser feita é que a modernidade que traz consigo a novidade, bem como o progresso que traz o desenvolvimento, têm importância formidável, mas não podem ser considerados fins em si mesmos, nem absolutizados como algo totalmente bom.
A era atômica, por exemplo, é fruto do progresso da ciência e a novidade que este período trouxe, entre outras coisas, foi a possibilidade da destruição do planeta.
C.S. Lewis assim o disse no livro “Surpreendido pela alegria”:
“Barfield deu cabo do que chamei de meu esnobismo cronológico”, a aceitação sem críticas do clima intelectual comum à nossa época e a suposição de tudo o que saiu de moda está desacreditado por causa disso. É preciso descobrir porque saiu de moda; se foi refutado alguma vez(em caso afirmativo por quem, quando e quão conclusivamente) ou meramente extinguiu-se como as modas costumam fazer. Se for este último caso, isso nada nos diz sobre sua verdade ou falsidade. Depois de perceber isto, passa-se à percepção de que nossa época também é um período e, com certeza, como todos períodos, tem sua próprias ilusões características. Elas mais provavelmente espreitam naquelas suposições difundidas, que estão tão enraizadas na época que ninguém ousa atacá-las ou acha necessário defendê-las.”
Modismos de todas as ordens(e seus líderes, grupos, etc) sejam filosóficos, científicos, comportamentais, linguisticos, espirituais, jurídicos, levam em consideração aqueles mitos sem se preocupar se a direção a que levam é boa, verdadeira e necessária.
Não se interessam em saber se aquilo o que também, no passado, poderia ser considerado “moda” e foi ultrapassado, na verdade era algo de valor que valeria a pena defender e lutar para que permanecesse.
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Excelente assunto para debate e reflexão.
O progresso, e suas consequentes inovações, é irrefreável.
Progresso, seja em que campo for, é uma coisa; progressismo, querer brincar de Deus, é desastre.
O progresso, material e filosófico, traz somente coisas boas; não poderia ser de outro jeito. Senão não seria progresso. As ruins, nada mais são do que decorrências do mau uso das novas descobertas, com as mais variadas intenções.
Na realidade, indo direto ao ponto, mesmo materialmente falando, tudo é de cunho moral.
Como cada ser se encontra em estágio diferente de moralidade, fruto de suas conquistas e méritos, eis aí as causas dos atritos, erros, confusões, enganos, quedas e infortúnios, mas, também de exemplo, equilíbrio, sabedoria, de domínio sobre si mesmo.
Obrigado Odilon pela observação. Concordo contigo, por mais que se tente afastar a moral, ela estará presente nas discussões, nas escolhas, ou seja, na atividade humana. E a título de meditação: e dentro da sua exposição, a humanidade está realmente progredindo?