O perigo do cientificismo aplicado à política em “Uma resposta ao professor Haldane”, de C.S. Lewis
Apesar de ter sido escrito na metade do século XX, a atualidade desse texto endereçado ao Professor Haldane* parece descrever a nossa realidade.
Selecionei alguns trechos, fiz alguns breves comentários e recomendo a leitura na íntegra dessa argumentação de Lewis sobre o perigo do cientificismo aplicado à política.
Trata-se, pois, de uma resposta dada a partir de uma acusação feita pelo professor Haldane, onde este sugere, entre outras coisas, que Lewis seria contra os cientistas e teria escrito livros de ficção científica com o objetivo de denegri-los.
Na verdade, Lewis explicou que o ataque foi ao cientificismo, não aos cientistas e escreveu:
“Certamente é um ataque, se não sobre cientistas, sobre algo que pode ser chamado de cientificismo; uma visão positiva do mundo que está casualmente ligada à popularização das ciências (…) É, em certa medida, a crença de que o fim moral supremo é a perpetuação de nossa própria espécie, e que isso deve ser buscado mesmo que, no processo de proteção, nossa espécie deva ser despojada de todas aquelas coisas pelas quais a valorizamos: compaixão, felicidade e liberdade”.
E são exatamente essas coisas que vêm se perdendo no estágio atual do combate à pandemia de covid-19: “compaixão, felicidade e liberdade”. O lockdown, o “passaporte sanitário”, a perseguição de todas as formas contra os não vacinados, por exemplo, são os causadores dessa perda e tudo isso feito em nome da “ciência”.
Continua a resposta, expondo outras consequências lógicas do cientificismo.
Ele explica que quando a humanidade começa a acreditar numa força impessoal (no caso, o cientificismo) transmitida por líderes “incontestáveis”, transformando isso em idolatria, o saudável contraditório desaparece e começa a se instalar um totalitarismo.
Duvidar de um governante e de seus ditames torna-se impossível:
“Uma metafísica, quando sustentada pelos governantes com a força de uma religião, é um sinal ruim. Ela os proíbe, como um inquisidor, de admitir algum grão de verdade ou de bem aos oponentes, anula as regras comuns da moralidade e dá uma sanção aparentemente exagerada e pessoal em extremo a todas as paixões humanas muito comuns pelas quais, como os demais homens, os governantes serão frequentemente impulsionados. Em uma palavra, ela proíbe a dúvida saudável. Um programa político nunca pode, na verdade, ser mais do que provavelmente certo. Nunca conhecemos todos os fatos sobre o presente e podemos tão somente tentar adivinhar o futuro. Anexar a um programa partidário – cuja mais alta reinvidicacão real é a prudência razoável – o tipo de consentimento que devemos reservar para teoremas demonstráveis é uma espécie de intoxicação.”
Lewis, então, apela politicamente para a democracia, pois teme que um pequeno grupo disciplinado detenha o poder e avance com mudanças que podem levar à sociedade ao obscurantismo:
“Sendo um democrata, oponho-me a todas as mudanças drásticas e súbitas da sociedade (em qualquer direção), porque elas nunca acontecem de fato, exceto por uma técnica particular. Essa técnica envolve a apreensão do poder por um grupo pequeno e altamente disciplinado de pessoas; o terror e a polícia secreta vêm automaticamente, me parece, a seguir. Eu não acho nenhum grupo bom o suficiente para ter esse poder. Eles são formados por homens de paixões semelhantes a nós. O segredo e a disciplina de sua organização já inflamaram neles a paixão pelo círculo interno que considero pelo menos tão corruptora quanto a avareza, e suas elevadas pretensões ideológicas terão emprestado a todas as suas paixões o prestígio da causa. Por isso, em qualquer direção em que a mudança é feita, ela é, para mim, condenada por seu modus operandi. O pior de todos os perigos é o comitê de segurança pública.”
Hoje, esse comitê de segurança descrito por Lewis, podemos dizer, é o Comitê científico, que assessora quase todos os governos do mundo e dita as regras para o cidadão durante a pandemia de coronavírus.
E sempre que a necessidade atropela o bom senso, podemos esperar o pior.
Lewis alertou:
“Devo, é claro, admitir que o estado atual das coisas às vezes pode ser tão ruim que um homem é tentado a arriscar a mudança, mesmo por métodos revolucionários, para dizer que situações desesperadas requerem soluções desesperadas e que a necessidade não conhece leis. Mas ceder a essa tentação é, eu penso, fatal. É sob esse pretexto que toda abominação entra. Hitler, o príncipe maquiavélico, a Inquisição, o curandeiro, todos diziam-se necessários.”
E essa necessidade, asseveremos, é típica dos materialistas ou dos fanáticos, que não têm dúvidas de nada, assim como os loucos.
P.S.: * J.B.S. Haldane foi um biólogo evolucionista britânico, marxista e terrivelmente anticristão.
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Excelente artigo.
"Para o bem da humanidade, em nome da ciência e da tecnologia reduzamos a população ( exceto o que dita isso)"!