A pós-verdade e a simplicidade das crianças
A pós-verdade e a simplicidade das crianças
Estávamos tomando o café da manhã e minha filha de dez anos me fez uma pergunta, que apesar de direta, não é de simples resposta: “papai, o que pós-verdade?”. No momento não sabia responder e então fomos pesquisar na internet e encontramos várias definições para o termo referido. Então, respondi: “Pós-verdade, Luiza, pelo que vimos em vários textos, é quando os fatos objetivos pouco importam na apresentação de uma história”. Ela parou um pouco e respondeu: “Entendi, pós-verdade é uma nova forma de dizer mentira”.
A resposta dela à questão pode não ter a complexidade dos estudos acadêmicos, porém tem a profundidade da simplicidade infantil. E, muitas vezes, senão na maioria, a simplicidade infantil enxerga coisas que o suposto refinamento intelectual dos adultos não enxerga. No final das contas, sem rodeios, ela foi ao cerne da questão.
Em outro texto, falei sobre o fictício combate às fake news por grande parte da mídia tradicional. O assunto deste texto tem correlação com o daquele, pois, na denominada época da pós-verdade, o que menos importa para muitos (infelizmente) são os fatos objetivos, ou seja, a realidade tal como ela é, e jogos retóricos são utilizados para criar narrativas com o objetivo de convencer o ouvinte de determinado ponto, muitas vezes utilizando de apelos emocionais.
Sempre foi importante para as pessoas aprender a verificar os fatos. E, em época da pós-verdade, ou da mentira, como Luiza prefere (eu também prefiro) chamar, essa importância é ainda maior.
Verifique os fatos por você mesmo, pesquisando em diversas fontes. Não delegue tal atribuição a ninguém, muito menos às agências de checagem, pois, como qualquer agrupamento de pessoas, têm interesses próprios que podem não ser os mesmos dos seus, de saber quais são os fatos de verdade, servindo, muitas vezes, as mencionadas agências, apenas para ratificar narrativas.
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