Dante, o valor e as invariantes axiológicas na Idade Média segundo Miguel Reale
Em conferência realizada em 1991, no Rio de Janeiro, por ocasião da instalação da VI Semana internacional de Filosofia, tratou Miguel Reale das “Invariantes axiológicas” e disse: “não haver tema mais fascinante que este das invariantes axiológicas, isto é, da existência de valores fundamentais e fundantes que guiem os homens, ou lhe sirvam de referência, em sua faina cotidiana.”
Ao discorrer, historicamente, sobre a palavra “valor” e de quando esta começa a ganhar contornos axiológicos invariáveis, afirma o eminente filósofo que a palavra valor aparece com esse significado, na Idade Média, nos versos da Divina Comédia de Dante Alighieri e cita passagens do Purgatório e do Paraíso: “eterno valore”; “ineffabile valore”; “l’eterno valor”. Expressões essas que indicam o supremo bem que é o Amor.
Faz a ressalva de que se trata de uma espécie de invariante axiológica transcendental.
No que concerne a palavra valor como expressão axiológica e surgindo pela primeira vez na história, ao que sugere a biografia de Dante, ela aparece primeiramente em Guido Cavalcanti, mestre e amigo dele.
Consta na biografia de Dante Alighieri, que, aos 17 anos, ele compôs versos para entrar numa sociedade de distintos poetas que cultivavam o amor como tema principal, cujo maior expoente era Guido Cavalcanti.
Então, escreve Dante:
“A toda alma cativa e de gentil teor
A qual mi’a rima possa dizer presente,
Que cada um exponha o que sente,
Saudando nosso senhor, que é o Amor.”
Havia, naquela época, um outro Dante poeta, conhecido como Dante de Maiano.
Este seu homônimo o detratou publicamente, ao escrever em tom de zombaria que o jovem Dante Alighieri deveria “lavar os testículos para ver se isso lhe clareava a mente”, pois teria ele uma condição patológica para escrever aquele tipo de verso.
No entanto, veio a séria resposta de Guido Cavalcanti em defesa do jovem Dante Alighieri onde é reconhecida a capacidade deste e é mencionado, pela primeira vez, o mundo do valor, em versos:
“Viste, segundo penso, todo o vigor,
A alegria e o bem que o homem sente, posto à prova pelo senhor valente, que é quem domina o mundo do valor…”
Feita essa pequena correção histórica, o mestre Miguel Reale salientou com precisão que o amor, valor supremo fundamental e fundante, era a invariante axiológica que emergira na Idade Média e que deveria governar o pensamento e emoções dos homens.
Não foi por acaso que Dante, na Divina Comédia, identificou Deus com o Amor, dizendo:”o Amor que move o Sol e as mais estrelas.”
Para ler sobre Dante contra os blasfemos, clique aqui.
# o valor e as invariantes axiológicas na Idade Média segundo Miguel Reale
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