Dostoiévski, 200 anos. O aspecto religioso da obra e da vida de um gênio universal
Comemoramos em 11 de novembro de 2021 os duzentos anos do nascimento de Dostoiévski.
Poucos autores examinaram a alma do ser humano como ele. Do ateu ao fanático; do intelectual ao santo; da prostituta ao assassino, todos têm voz na obra dostoievskiana.
Apesar dessa polifonia, Dostoiévski é um autor moral. Essas “vozes” não são equipolentes. Para ele, além de não existir moral sem noção do bem e do mal, também não existiria moral sem Deus. Isso está totalmente de acordo com o Cristianismo.
E era em Nosso Senhor Jesus Cristo que Dostoiévski confiava, apesar de ter oscilado entre a crença e a descrença.
Em carta datada de início de fevereiro de 1854, ele escreveu:
“Quanto tudo isso tem me atormentado (e até hoje perturba) – essa nostalgia de fé, que ainda é maior por conta das provas que tenho contra ela; ainda assim, Deus me dá por vezes momentos de perfeita paz. Nesses momentos, tenho construído meu credo, no qual tudo é claro e sagrado para mim. Esse credo é extremamente simples: creio que não há nada mais adorável, profundo, compassivo, racional, viril e perfeito que o Salvador; digo a mim mesmo, com amor enciumado, que não há ninguém como Ele, mas que não haveria ninguém. Diria até mais: se alguém pudesse me provar que o Cristo está fora da verdade, e se a verdade excluísse o Cristo, eu preferiria estar com o Cristo e não com a verdade”.
A descrença racional e, ao mesmo tempo, a crença em Deus através da opção radical pelo Cristo, atormentavam o genial russo e são os principais assuntos da sua obra.
Sendo assim, a existência ou não de Deus e as consequências disso era o que verdadeiramente interessava para ele e é o que, realmente, influencia o comportamento do ser humano e da sociedade.
Tomemos como exemplo dessa questão e suas consequências, o personagem revolucionário Kirilov, do livro “Os Demônios”:
“Se Deus não existe, diz ele, eu sou Deus…Se Deus existe, toda vontade lhe pertence, e fora dessa vontade nada posso. Se ele não existe, toda vontade me pertence, e devo proclamar minha própria vontade…Para mim, a ideia mais elevada é a negação da existência de Deus. Toda história me presta testemunho. Até agora o homem não tem feito senão inventar Deus, a fim de viver sem matar-se! É essa a história do mundo até nossos dias. Sou eu, pela primeira vez na história do mundo, recusei-me a inventar Deus. Saibam-no todos, de uma vez para sempre”.
Nos nossos dias, cada vez mais, essa negação de Deus se faz presente.
Aborto, eutanásia, cientificismo, ideologia de gênero, igualitarismo, suicídio assistido, etc, são exemplos dessa negação e, por conseguinte, da entronização do ser humano no lugar de Deus.
Kirilov, então, para provar que “a ideia mais elevada é a negação da existência de Deus”, se suicida.
O nosso mundo, com muitos “Kirilovs”, está em rota suicida!
Dostoiévski sabia muito bem do pesadelo que é viver numa sociedade sem fé. Não precisaria nem ser comunista, poderia ser uma sociedade obcecada por prazeres, utilitarismo e suberviência a ídolos, onde Deus também é rejeitado, assim como no comunismo.
Entendia que era o terreno fértil para o desespero, o niilismo e para a destruição.
Dostoiévski resistiu à descrença e a toda essa loucura de uma vida sem a fé em Deus.
Suas últimas palavras para a família, testemunhadas por sua esposa, Ana Grigorievna, não deixam dúvida:
“Tenham absoluta confiança em Deus e jamais desesperem do seu perdão. Eu amo muito vocês, mas o meu amor não é nada, comparado ao imenso amor de Deus pelos homens”.
P.S. Utilizamos os seguintes livros para compor essa homenagem:
“A vida de Dostoiévski”de Henri troyat
“Dostoiévski: correspondências 1838-1880”
“Meu marido Dostoiévski” de Ana Grigorievna
“Os Demônios” de Dostoiévski.
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Uma excelente e breve exposição.
Uma bela homenagem.
Excelente texto !
A Fé é insubstituível.
Jesus Cristo veio ao mundo para nos salvar.
Isso é tudo.