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Energias renováveis e o teste da realidade: a guerra na Ucrânia como teste empírico da ilusão de matriz energética 100% renovável

Energias renováveis e o teste da realidade: a guerra na Ucrânia como teste empírico da ilusão de matriz energética 100% renovável

            Pouquíssimas pessoas têm falado sobre um aspecto importante da guerra na Ucrânia. E esse aspecto não é a inesperada resistência das forças armadas ucranianas diante dos batalhões russos. O aspecto que quase ninguém menciona é a fragilidade/vulnerabilidade imposta aos países do ocidente europeu em relação às fontes de energia pela política ecológica do bloco.

            Para cumprir com as agendas ambientalistas, os países da Europa abriram mão da segurança energética, passando a depender perigosamente do gás da Rússia. Diversos países, a exemplo da Finlândia, Suécia e Alemanha, foram porta-vozes da substituição da geração de energia elétrica oriunda de hidrocarbonetos por energia eólica e solar. Advogavam que o futuro residia na adoção maciça da geração de eletricidade através de fontes renováveis, ecologicamente “corretas”.

            E, com isso, fecharam diversas plantas de geração de energia elétrica com base em energia nuclear e termoelétricas movidas a carvão, passando a depender quase que totalmente do gás russo para as suas indústrias e para a geração de energia elétrica.

            Na teoria, parecia tudo perfeito e maravilhoso, com imagens (nas propagandas) de pessoas felizes em verdes prados, tudo graças à ideia da eliminação total dos hidrocarbonetos como fonte de energia. E a substituição estava a passos largos, rumo ao objetivo de substituição total nos próximos dez anos. Porém, apareceu uma pedra no meio do caminho.

            E a pedra é o conflito bélico entre Rússia e Ucrânia e a reposta de Moscou às sanções econômicas dos países europeus. Oficialmente, a Rússia afirmou que invadiu a Ucrânia diante da ameaça do ingresso deste país à OTAN, não podendo permitir que mais um país em sua fronteira fizesse parte da referida aliança. Independente das razões externadas, que não são objeto deste texto, o fato da vulnerabilidade energética da Europa do gás russo é presente e, provavelmente, continuará sendo presente por alguns anos.

            Além de presente, a fragilidade na obtenção de energia para a indústria, aquecimento e outras finalidades, pelos países da Europa ocidental, é de importância geopolítica, com impacto na segurança de suas respectivas populações.

            A Europa é dependente do gás russo, que é fornecido através dos gasodutos da estatal russa Gazprom e de um consórcio[1] de empresas liderado pela Nord Stream 2 AG, com sede em Zug, Suíça, que tem como controladora a empresa estatal russa mencionada.

            O conflito[2] Ucrânica-Rússia colocou em xeque a tese de que é possível a total substituição dos combustíveis fósseis e nucleares por fontes renováveis, notadamente eólica e solar. Essas duas fontes são intermitentes, não sendo capazes de fornecer energia em volume e continuidade necessários para a dinâmica da vida moderna, em especial de países industrializados.

            Essas políticas de substituição de fontes de energia precisam encarar de forma séria a realidade para não colocar em risco as populações dos países envolvidos. O bloco europeu adotou a política ambiental impositiva referida de forma irresponsável, confiando o fornecimento de gás natural quase que exclusivamente à Rússia.

            Os líderes que encamparam essa malfadada estratégia ou são muito ingênuos e crédulos em projetos utópicos, ou são mal intencionados, pois contribuíram, de forma ativa, para colocar seus países e suas populações à mercê da vontade político-econômica de uma outra nação. Em qualquer das duas possibilidades assinaladas, os líderes europeus que impeliram os seus países a essa situação de vulnerabilidade deveriam ser afastados da vida política e responsabilizados civil e criminalmente por esse ato atentatório à soberania do bloco.

            Alemanha e Áustria retomaram a produção de energia elétrica a carvão para reduzir a necessidade de gás russo, de acordo com notícia publicada pelo site Observador. O ministro de Assuntos Econômicos e Ação Climática alemão, Robert Habeck, afirmou que é “doloroso, mas é uma necessidade absoluta para reduzir o consumo de gás”. O político alemão é membro do Partido os verdes.

            A realidade demonstra, mais uma vez, que é mais forte do que teses abstratas que são adotadas como política de Estado. Políticas essas que não investigam, com seriedade, antes da sua adoção impositiva pelos governos, as várias implicações da sua adoção, tanto os efeitos positivos, quanto, e especialmente, os efeitos negativos sobre as empresas e as pessoas.

            O fato acima exposto é mais um exemplo dos efeitos deletérios do planejamento centralizado, realizado, desta vez, pelo bloco da União Europeia em relação à política de energia.

            Por isso, é necessário sempre, antes da adoção de qualquer política, que essa não seja abordada apenas nos seus aspectos abstratos, esses muitas vezes fundados em desejos irrealizáveis, mas sim, e principalmente, nas consequências no mundo da realidade. Não é desejável colocar em risco toda uma população em razão de teses que não foram verificadas com dados da realidade.             Mas isso[3] costumeiramente não acontece, comprovando que os governantes (independente da sua coloração política) estão totalmente descolados dos interesses e das necessidades do povo, não funcionando, na prática, como seus representantes.


[1] Empresas: Gazprom, Royal Dutch ShellE.ONOMV e Engie.

[2] Não adianta dizer que esse conflito foi um fato imprevisível. No planejamento de políticas energéticas dessa magnitude, a possibilidade de guerra, mesmo que remota, deve ser seriamente considerada. E em relação à Rússia, pelo seu histórico, não é surpresa nenhuma a invasão da Ucrânia.

[3] Estudos e planejamento com base na realidade dos fatos e da análise realista do estado atual da tecnologia.

Leia também:

Brasil e a regulação estatal da economia compartilhada

A revolta cubana sob o olhar de John Locke

Publicado no blog Guedes & Braga.

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Luiz Guedes da Luz Neto

Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (2001). Mestre em Direito Econômico pela UFPB (2016). Aprovado no concurso de professor substituto do DCJ Santa Rita da UFPB (2018). Aprovado no Doutorado na Universidade do Minho/Portugal, na área de especialização: Ciências Jurídicas Públicas. Advogado. Como advogado, tem experiência nas seguintes áreas : direito empresarial, registro de marcas, direito administrativo, direito constitucional, direito econômico, direito civil e direito do trabalho. Com experiência e atuação junto aos tribunais superiores. Professor substituto das disciplinas Direito Administrativo I e II e Direito Agrário até outubro de 2018. Recebeu prêmio de Iniciação à Docência 2018 pela orientação no trabalho de seus monitores, promovido pela Pró-Reitoria de Graduação/UFPB. Doutorando em direito na UFPB.

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