Edgar Allan Poe, o jogo de xadrez e a pobre cultura engendrada pelo audiovisual. O problema de séries como “O Gambito da Rainha”

Edgar Allan Poe, o jogo de xadrez e a pobre cultura engendrada pelo audiovisual. O problema de séries como “O Gambito da Rainha”

Edgar Allan Poe, o jogo de xadrez e a pobre cultura engendrada pelo audiovisual. O problema de séries como “O Gambito da Rainha”

Muito se tem falado na série “O Gambito da Rainha” produzido e veiculado pela Netflix.

Noticiou-se também que o filme fez aumentar o interesse pelo jogo de xadrez em todo o mundo. É isso mesmo: o entretenimento de massa veiculado pelo meio audiovisual forma rebanho, não intelectuais.

O filme glorifica o xadrez e a personagem faz, entre erros e acertos, o estilo heroína. Sabendo-se, desde já, que os grandes enxadristas eram homens.

Antes que as feministas cerrem os punhos contra mim, quero dizer que o alvo da minha crítica é o enaltecimento exagerado do jogo e não a capacidade feminina. Definitivamente, o xadrez não é tudo isso!

E o que teria o genial escritor Edgar Allan Poe com essa história?

Alguns apressados podem dizer: Poe era alcoólatra e a atriz principal tem problemas com álcool. Mas, não é essa a questão.

Na verdade, o criador do conto policial, numa de suas melhores histórias, denominada “Os crimes da rua Morgue”, desmistifica o jogo de xadrez.

Nessa obra, ele compara o jogo de xadrez ao de damas e afirma que este último é o jogo das grandes mentes. O detetive genial que desvendará um assombroso crime é comparado a um jogador de damas, não a um enxadrista.

Enquanto o xadrez e as suas múltiplas alternativas podem fazer o competidor perder a partida por causa de uma falha da memória ou falta de atenção, no jogo de damas, para se obter êxito, dadas as poucas alternativas do jogo, é a inteligência que brilha!

Escreveu Poe:

“Aproveitarei, pois, esta ocasião para afirmar que as faculdades mais importantes da inteligência reflexiva agem de maneira mais decisiva e útil no simples jogo de damas do que em toda essa frivolidade complicada do xadrez. Neste último, onde as peças têm movimentos diferentes e estranhos, com valores e variáveis, o que é apenas complexo é considerado (erro nada incomum) profundo. A atenção, aqui, é poderosamente posta em jogo. Se se descuida um instante, e se comete um engano, os resultados implicam perda ou derrota.
(…)
Exemplificando o que dissemos, suponhamos um jogo de damas em que as peças sejam reduzidas a quatro reis e onde, naturalmente, não é de se esperar qualquer descuido. É evidente que, aqui, a vitória só poderá ser decidida (achando-se os jogadores em igualdade de condições) pelo movimento rebuscado resultante de um determinado esforço de inteligência. Privado de recursos ordinários, o analista penetra no espírito de seu oponente, identifica-se com ele e, não raro, vê, num relance o único meio (às vezes absurdamente simples) mediante o qual poderá induzi-lo a engano ou levá-lo a um erro de cálculo”.

Poe, como se lê acima nesse trecho do conto “Os Crimes da rua Morgue”, dá um “xeque-mate” nos amantes do xadrez e a grande literatura, como sempre, dá lições à pobre cultura engendrada pelo audiovisual.

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Publicado no Blog Guedes & Braga.

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Luís Fernando Pires Braga

Advogado.

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