Poder e política. Um exemplo dantesco
Dissemos anteriormente, no texto “Dante e a filosofia política”, que este defendera a separação do poder temporal do poder espiritual.
Procurava, Dante, descanonizar o Estado e reguardar a Igreja da mundanidade e da contaminação política.
Para exercitar o poder, no entanto, é necessário a política e esta para alcançar o seu fim pode instrumentalizar a religião ou qualquer outro meio que possibilite o exercício do poder.
Ives Gandra da Silva Martins observou isso no livro “Uma breve teoria do poder”, dizendo:
“Não sem razão, pensadores como Carl Schmitt e Maquiavel desmascaram a política(vale também para a convivência humana, em geral) demonstrando, seu viés de fantasia filosófica e cinismo pragmático. Para os referidos autores, para eles, política se justifica, fundamentalmente, à luz de seu principal personagem, a partir, exclusivamente, da ambição pelo exercício do poder.”
Pois bem, “a ambição pelo exercício do poder” traz em em si a marca da traição política o que pode ser trágico e causar horror.
A história nos mostra diversos exemplos, um deles está contado na “Divina Comédia” e envolve política e religião. Um poderoso Conde e um Arcebispo.
No nono e último círculo do inferno onde são punidos os traidores, Dante e Virgílio encontram o Conde Ugolino della Gherardesca e o arcebispo Ruggieri Ubaldini, ambos da cidade de Pisa e ambos culpados por traição política.
Ugolino e seu neto, Nino Visconti, líderes dos partidos dos Guelfos, tomaram o poder em Pisa no ano de 1288.
Depois, Ugolino se une a Ruggieri, do partido Gibelino, e trai Visconti. Este é expulso de Pisa.
Com o partido Guelfo de Ugolino enfraquecido, o Arcebispo Ruggieri trai o Conde Ugolino e se volta contra ele, prendendo-o junto com dois filhos e dois netos numa torre.
Ruggieri, depois de certo tempo da prisão de Ugolino e família, ordena que se lacre a porta da prisão na torre e mata todos de fome.
A brutalidade do episódio que envolve um religioso e um nobre envolvidos em política e traição, na ambição desbragada pelo poder, teve um destino imaginado por Dante do qual só podemos lamentar e esperar daqueles que usam a política só em busca do poder, não para servir.
Da ambição pelo poder e da traição política, até a morte de fome, Dante concebeu uma visão infernal dos dois traidores.
A cena se desenvolve no nono círculo do inferno em que Ugolino se vinga de Ruggieri, comendo o crânio do arcebispo:
“A boca levantou do vil repasto
Aquela alma, limpando-a no cabelo do crânio que ela havia por trás já gasto.”
# Poder e política. um exemplo dantesco
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Parabéns por mais um belíssimo artigo.
Obrigado. Abraço.
Como sempre um artigo que dá gosto ler. Parabéns! Aguardo já o próximo com impaciência.
Obrigado Ana Ribeiro. A sua manifestação se torna mais um incentivo para continuar as publicações.