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O pensamento de Eliezer Berkovitz na”Teologia do Holocausto” de Ariel Finguerman e o sofisma da falsa analogia.

O pensamento de Eliezer Berkovitz na”Teologia do Holocausto” de Ariel Finguerman e o sofisma da falsa analogia.

Considero “A Teologia do Holocausto” de Ariel Finguerman uma pequena obra-prima teológica. Merece reflexão especial, sobretudo, o pensamento de Eliezer Berkovitz mencionado no livro.

Antes, no entanto, desfaçamos um erro propagado por alguns ignorantes ou mal intencionados.

Dentre os sofismas usados durante essa pandemia, um dos piores é o da falsa analogia que elabora a comparação de uma pandemia com o Holocausto.

Em um rápido e sucinto esclarecimento, ao comparar as vítimas do Holocausto e os doentes da pandemia, podemos dizer:

Os judeus foram destituídos de todos os bens materiais e colocados em campos de concentração para serem exterminados; os doentes da covid-19, ao contrário, não foram destituídos dos bens materiais e foram colocados em hospitais para serem tratados.

Pandemia se compara com pandemia. Não se pode comparar com um genocídio. A atual pandemia deve ser comparada, por exemplo, com a da Peste Negra e a da Gripe Espanhola.

O Holocausto não pode ser comparado a uma pandemia e, também, em razão de seu sentido histórico-teológico, não pode ser equiparado a nenhum outro genocídio.

Em “A Noite”, livro de memórias que influencia toda a Teologia do Holocausto, Elie Wiesel faz a seguinte reflexão religiosa.

Um menino prisioneiro é enforcado, pois participou de uma sabotagem no campo de concentração. Os outros prisioneiros são obrigados a assistir ao terrível homicídio e um deles pergunta:

“Onde está Deus agora?”

Elie Wiesel diz ter ouvido uma voz interior com a seguinte resposta:

“Aí está Ele, pendurado nesta forca.”

Diante disso, a maldade só pode ser compreendida e superada a partir da crença amorosa em Deus. Num Deus que, embora permita o mal, se entrega junto com a vítima inocente.

François Mauriac dedicou o livro “O Filho do Homem” a Wiesel com os seguintes dizeres:

“A Elie Wiesel, que foi um menino judeu crucificado. Seu amigo”

O Holocausto, podemos dizer, foi a “crucificação” do povo escolhido por Deus, “o povo da aliança e das bênçãos”, como disse São João Paulo II.

Pois bem, Ariel Finguerman, no livro “Teologia do Holocausto” demonstra a dimensão teológica da Shoá, citando principalmente Eliezer Berkovitz, Rabino, filósofo e um dos mais importantes pensadores judeus do Século XX:

“A história dos judeus é um segredo cerrado, que desafia interpretações naturalistas e testemunha uma dimensão supranatural e fora de série na história do mundo.
Dada a essa posição metafísica dos judeus no mundo, o Holocausto não poderia ser explicado apenas do ponto de vista racional e histórico. Para Berkovitz, a Shoá aconteceu, primordialmente, devido à posição cósmica dos judeus. Os nazistas perceberam essa posição crucial dos judeus no arranjo divino e criaram o Holocausto para destronar Deus. O nazismo não foi uma ideologia política em sua essência, mas uma força espiritual negativa. A brutalidade excepcional da Shoá mostrou que o que estava em jogo era algo satânico, não humano, de um barbarismo metafísico.
Os nazistas pretenderam eliminar de uma vez o Deus da História, que respresentava o oposto de sua ideologia supremacista. A Solução Final quis eliminar o povo-testemunha e, assim, eliminar Deus. A Alemanha nazista sentiu através de um conhecimento sombrio a presença na História do Deus que se oculta. O adversário natural desse tipo de rebelião é sempre o judeu, não pelo que ele faz, mas pelo que representa na História.”

Ser judeu, então, não é um privilégio, mas é ter uma grande responsabilidade. Uma responsabilidade cósmica.

A “tragédia judaica” do Holocausto, nos ensina Berkovitz, representa toda a “tragédia humana”. Há, segundo ele, uma relação intrínseca com o destino humano.

Por outro lado, como expõe Finguerman, Exílio e Redenção são os elementos centrais do judaísmo usados por Berkovitz para desenvolver a sua Teologia do Holocausto. Exílio e Redenção que são sentidos, no nosso tempo, por muitos em todo mundo.

Isso ocorre, pois “o barbarismo metafísico” e a “força espiritual negativa” do nazismo parecem estar de volta sob outras formas. Judeus, cristãos e todos os homens de boa vontade percebem que estão exilados no mundo de hoje, pois sentem que a perseguição não cessa e está aumentando, mas sentem, também, a perspectiva indizível da Redenção.

Publicado no blog Guedes & Braga

Leia também:

Democracia, a inviolabilidade da vida humana e o exemplo de Franz Jäggestätter

O Sofisma da falsa analogia e a questão da Prudência conforme as linhas mestras da filosofia Aristotélico-tomista.

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Luís Fernando Pires Braga

Advogado.

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  • Excelente, como sempre.
    O artigo é claro e não deixa dúvida sobre o momento por que estamos passando.

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